‘O Brasil não está neutro’, diz Mourão sobre invasão da Ucrânia; Bolsonaro não se pronunciou

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Vice-presidente afirmou que o governo brasileiro não concorda com a invasão (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, afirmou que o Brasil não concorda com a invasão da Rússia à Ucrânia. Mourão comentou o conflito sobre o conflito nesta quinta-feira (24), na chegada ao Palácio do Planalto. O presidente Jair Bolsonaro (PL) ainda não se pronunciou sobre o assunto, apesar de ter conversado com apoiadores no tradicional “cercadinho” do Palácio da Alvorada. Em seu discurso de 20 minutos em São José do Rio Preto, em São Paulo, Bolsonaro também não abordou o tema.

Já Mourão, por sua vez, afirmou que o Brasil não está “em cima do muro”, segundo informações do g1. “O Brasil não está neutro. O Brasil deixou muito claro que ele respeita a soberania da Ucrânia. Então, o Brasil não concorda com uma invasão do território ucraniano. Isso é uma realidade”, disse.

O exército russo invadiu a Ucrânia na madrugada desta quinta-feira (24) no horário de Brasília, seguindo ordens do presidente Vladimir Putin. A ofensiva ocorreu logo após o país anunciar que havia decidido realizar uma operação militar especial no território ucraniano. Explosões foram relatadas em diversos pontos do país deixando feridos.

Itamaraty relata preocupação

O Ministério das Relações Exteriores publicou uma nota na manhã desta quinta-feira (24) posicionando-se contrariamente à invasão da Ucrânia. No comunicado, o Palácio do Itamaraty afirma a que “acompanha com grave preocupação a deflagração de operações militares” e apela pelo fim das hostilidades entre os países.

Em outra nota, a pasta afirmou que a embaixada brasileira em Kiev continua aberta e focada na proteção de todos os 500 cidadãos brasileiros na Ucrânia. Além disso, a embaixada está enviando orientações por meio de WhatsApp e Telegram e auxiliando os cidadãos que desejam sair do país.

Posicionamento

Após Jair Bolsonaro visitar a Rússia e declarar sua solidariedade, o presidente não se manifestou sobre a invasão da Ucrânia. Entretanto, outras figuras políticas já se pronunciaram sobre a iminência de guerra.

No Twitter o ex-presidente Lula (PT) disse ser contrário à guerra. “A humanidade não precisa de guerra, precisa de emprego, de educação. Por isso que eu fico triste de estar aqui falando de guerra e não de paz, de amor, de desenvolvimento”, começou.

“Ninguém pode concordar com guerra, ataques militares de um país contra o outro. A guerra só leva a destruição, desespero e fome. O ser humano tem que criar juízo e resolver suas divergências em uma mesa de negociação, não em campos de batalha”.

Lula também alfinetou o atual presidente, Jair Bolsonaro, ao questionar “para que serve um presidente que briga com todo mundo?”, escreveu. “Até em coisas sérias, ele mente, disse que tinha conseguido a paz ao viajar para a Rússia”, afirmou Lula.

O pré-candidato à Presidência pelo PDT, Ciro Gomes, manifestou-se contrário à invasão e criticou o atual presidente. “No mundo atual não existe mais guerra distante e de consequências limitadas. Precisamos nos preparar, portanto, para os reflexos do conflito entre Rússia e Ucrânia. Muito especialmente por termos um governo frágil, despreparado e perdido”, afirmou.

Ciro ainda comentou os impactos que a guerra iminente pode gerar no Brasil e no mundo, uma vez que o barril de petróleo já passou de US$100: “O que vai nos atingir em cheio por termos uma política absurda de preços rigidamente atrelada ao mercado internacional”.

O pré-candidato Sergio Moro (Podemos) também postou uma nota sobre a invasão: “Repudio a guerra e a violação da soberania da Ucrânia. A paz sempre deve prevalecer”, escreveu. João Doria, pré-candidato do PSDB, escreveu que a situação era “conversável” e afirmou que “Guerra nunca é resposta a nada”: “Ninguém ganha quando a violência substitui o diálogo”.

O deputado Aécio Neves (PSDB), presidente da Comissão da Relações Exteriores da Câmara, pronunciou seu repudio aos ataques contra ucranianos em nota. “Os bombardeios russos contra a Ucrânia, país soberano que conquistou sua Independência em 1991, violam as regras e normas internacionais e devem ser fortemente condenado pelas instâncias multilaterais e os governos democráticos”, disse.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), manifestou-se no Twitter sobre o assunto. “O mundo já enfrenta o luto de milhões de perdas da pandemia de Covid-19. À medida que voltamos à normalidade, assistimos a uma escalada sem precedentes entre Rússia e Ucrânia”, escreveu. “Neste momento, precisamos de paz, entendimento e que as duas nações busquem os caminhos diplomáticos”, acrescentou o presidente da Câmara.

Notas do governo federal na íntegra

Situação na Ucrânia

O Governo brasileiro acompanha com grave preocupação a deflagração de operações militares pela Federação da Rússia contra alvos no território da Ucrânia.

O Brasil apela à suspensão imediata das hostilidades e ao início de negociações conducentes a uma solução diplomática para a questão, com base nos Acordos de Minsk e que leve em conta os legítimos interesses de segurança de todas as partes envolvidas e a proteção da população civil.

Como membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas, o Brasil permanece engajado nas discussões multilaterais com vistas a uma solução pacífica, em linha com a tradição diplomática brasileira e na defesa de soluções orientadas pela Carta das Nações Unidas e pelo direito internacional, sobretudo os princípios da não intervenção, da soberania e integridade territorial dos Estados e da solução pacífica das controvérsias.

Brasileiros na Ucrânia

A Embaixada do Brasil em Kiev permanece aberta e dedicada, com prioridade, desde o agravamento das tensões, à proteção dos cerca de 500 cidadãos brasileiros na Ucrânia. A Embaixada vem renovando o cadastramento dos brasileiros e tem-lhes transmitido orientações, por meio de mensagens em seu site (kiev.itamaraty.gov.br), em sua página no Facebook (https://www.facebook.com/Brasil.Ukraine) e em grupo do aplicativo Telegram (https://t.me/s/embaixadabrasilkiev).

Solicita-se aos cidadãos brasileiros em território ucraniano, em particular aos que se encontrem no leste do país e outras regiões em condições de conflito, que mantenham contato diário com a Embaixada. Caso necessitem de auxílio para deixar a Ucrânia, devem seguir as orientações da Embaixada e, no caso dos residentes no leste, deslocar-se para Kiev assim que as condições de segurança o permitam.

O Itamaraty disponibiliza, ainda, para casos de emergência consular de brasileiros na Ucrânia e seus familiares, o número de telefone de plantão consular +55 61 98260-0610.

Edição: Giovanna Fávero