Depois de enfrentar uma das ocorrências mais violentas dos últimos anos, quando perseguição policial a um suspeito com um carro em fuga resultou em batidas em sequência, tiroteio e morte do fugitivo, comerciantes, moradores e frequentadores da Savassi, na Zona Sul de Belo Horizonte, têm opiniões divididas quanto à insegurança na região. Para alguns, a ocorrência de segunda-feira (22/8) é resultado do crescimento da violência em uma das áreas comerciais mais nobres da capital. Outros veem o episódio como um evento isolado, que não espelha as condições do dia a dia. De toda forma, a comunidade local se mobiliza por reforço na segurança de ruas e avenidas lotadas de lojas, bares, restaurantes e consumidores.
Tanto que reunião no início do mês entre representantes da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-BH) e autoridades da área de segurança definiu um conjunto de medidas para fortalecer o policiamento e o monitoramento da região. E, entre comerciantes, há quem afirme ter testemunhado a ação de policiamento velado na área – estratégia sobre a qual a Polícia Militar não se manifesta.
Em meio à mobilização, comerciantes da região têm se queixado de que a Savassi, principalmente à noite, tem estado vazia e com pouco policiamento. É o caso de Bruno Golgher, que administra o Café com Letras, na Rua Antônio de Albuquerque. Ele avalia que a presença de policiais acaba coibindo a ação de criminosos, mas que não é isso o que tem observado. “Estou percebendo que as ruas estão muito desertas à noite, e isso favorece a violência. É na falta de gente e de policiamento que se vê a queda da segurança”, diz.
Diferentemente de Golgher, o cabeleireiro Luiz Henrique de Barros Vaz avalia que a sensação de segurança na área é satisfatória, e considera ser “marcante” a presença da Polícia Militar na Savassi. “Eu pessoalmente me sinto bastante seguro”, afirma ele, acreditando que as ocorrências de crimes são casos isolados.
Na avaliação do diretor da CDL-BH Alessandro Runcini, ao lado do Bairro Lourdes, também na Região Centro-Sul, a Savassi é uma das áreas mais seguras da capital. Ele afirma que isso não significa que não haja na área ocorrências como furtos e arrombamentos, mas sustenta que não tem havido registro de crimes violentos, como homicídios ou roubos com emprego de violência. Porém, entende que o maior problema tem sido outro: “O que mais apavora lojistas, moradores e frequentadores são as pessoas em situação de rua. Mesmo a maioria sendo tranquila, o que acontece é que alguns causam medo ou ameaçam as pessoas. Mas esse não é um problema da Savassi, e sim de toda a região Centro-Sul”.
Runcini informa que, no dia 2 deste mês, a CDL-BH se reuniu com a Polícia Militar para tratar da segurança na Savassi. Do encontro saiu um acordo para aumentar a vigilância na região. De acordo com o dirigente da entidade, câmeras de vigilância externa dos empreendimentos que participam da Rede de Comerciantes Protegidos serão sincronizadas com o monitoramento oficial da rede de segurança pública. “Também vamos elaborar junto à Polícia Militar e à Guarda Municipal campanha para fortalecer a segurança na região, usando, por exemplo, folhetos e cartilhas explicativas”, afirma.
Pânico e relato de
policiamento velado
Os movimentos por reforço da segurança na Savassi coincidem com a perseguição policial que deixou moradores, comerciantes, frequentadores, pedestres e motoristas apavorados na tarde de segunda-feira, quando viaturas da Polícia Militar montaram cerco e perseguiram um suspeito. A operação culminou com tiroteio e com o fugitivo baleado em plena Avenida do Contorno, próximo ao Hotel Ibis. Segundo a corporação, o homem reagiu à abordagem atirando enquanto fugia em um carro, batendo em vários outros veículos. O acusado, que segundo a PM era procurado sob suspeita de ter participado de diversos roubos na capital na última semana, morreu, mas não houve registro de outros feridos.
A lojista Janaina Pinheiro, de 47 anos, que presenciou a operação, afirma que se sentiu mais segura ao perceber a atuação de policiais à paisana. “No mundo em que vivemos, estamos constantemente inseguros. Graças a Deus, vi policiais à paisana, que eu não sabia que atuavam aqui na região, e isso me fez ficar um pouco mais tranquila, porque eles ajudam caso aconteça alguma coisa”, afirmou.
Arrombamento
Na última semana, na noite da quinta-feira (18/8), os proprietários de uma loja de doces na Savassi sofreram uma tentativa de invasão no estabelecimento, quando ladrões tentaram furtar o motor do ar-condicionado pelo telhado. No início de agosto, criminosos conseguiram entrar e levar tablets e celulares, segundo os comerciantes.
De acordo com a supervisora da loja Doce que seja Doce, Maria Eduarda Alves, os criminosos usam um imóvel abandonado que fica atrás da loja, na Rua Rio Grande do Norte, para ter acesso ao telhado. Ela conta ainda que, diante das ocorrências, a saída do trabalho também tem sido insegura. “Tentamos combinar de sair todo mundo junto, já que pode haver alguém na esquina, esperando para abordar a gente ou roubar a loja”, conta.
Procurada para se manifestar sobre a segurança na Savassi, a Polícia Militar informou que o policiamento na área ocorre 24 horas por dia, e confirmou que ações específicas para combater e prevenir crimes no local estão sendo adotadas. A corporação não comentou, porém, o relato sobre a presença de policiamento velado na área.
Com EM