Apesar de os desfiles das escolas de samba e as saídas dos blocos tradicionalmente ocorrerem nos primeiros meses do ano, os preparativos se desenrolam durante o ano inteiro. E, para 2022, após o cancelamento da folia em 2021 devido à pandemia, os organizadores reclamam da falta de apoio de autoridades e empresas privadas neste momento de incerteza.
Alguns até voltam a ensaiar de forma tímida, mas as opiniões se dividem sobre a possibilidade da folia em fevereiro. Eventos particulares, porém, já iniciaram a venda de ingressos.
Na última sexta-feira (19/11), o prefeito Alexandre Kalil (PSD) anunciou que o carnaval de Belo Horizonte em 2022 não terá apoio de verba pública municipal. Ele deixou claro o cuidado com a movimentação espontânea, mas sem “patrocinar” eventos.
“A prefeitura dá, quando você vai passear na Lagoa da Pampulha, a Guarda Municipal, trânsito, cuidado, tudo o que tiver de espontâneo é obrigação da prefeitura cuidar da população. Ponto final, é isso. Não adianta, que a prefeitura não vai patrocinar carnaval, não vai patrocinar nada”, disse, em entrevista coletiva na Prefeitura de BH.
Na semana passada, a prefeitura unificou as regras para funcionamento das atividades econômicas na cidade, por meio do Decreto 17.763. O texto reuniu normas dispersas em inúmeros atos publicados durante a pandemia, além de ter flexibilizado e simplificado a normatização para vários setores.
Apesar da melhora de cenário que motivou mais esse relaxamento, a administração, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, informou que não é possível prever a situação epidemiológica para fevereiro de 2022. “O que se pode afirmar, a princípio, é que se o carnaval fosse hoje, não seria possível a realização do evento na cidade”, completou, em nota enviada na semana passada.
O tema foi discutido em audiência pública na Câmara Municipal de BH, semana passada. O objetivo foi ouvir a opinião de representantes dos blocos de carnaval e escolas de samba da capital mineira sobre a realização da festa em 2022. Em função dos protocolos sanitários e falta de recursos municipais, também é incerta a manutenção dos incentivos financeiros para a festa. Representantes dos blocos defendem a necessidade da participação da população no planejamento e nas decisões sobre a folia.
Baterias e foliões em compasso de espera
Sem definições, os blocos não deram largadas aos preparativos, ou retomaram as atividades de forma tímida. O Chama o Síndico, que homenageia Tim Maia, não iniciou os ensaios. “Não retomamos, já que não há nenhuma sinalização da prefeitura quanto à realização do carnaval de rua”, disse a produtora Renata Chamilet, na semana passada, antes das declarações de Kalil.
O grupo funciona em duas frentes: a banda e o bloco, ambos suspensos devido à pandemia. Eles optaram por não promover nem lives, pois só a banda e equipe técnica já seria uma pequena aglomeração de 15 pessoas. “Estamos voltando aos poucos com a banda. Com o esquema vacinal completo de toda a equipe e testes de COVID-19 antes dos eventos, ficamos mais seguros”, completou.
Ela também se mostra preocupada com a situação da pandemia no mundo e as perspectivas para fevereiro. “Acreditamos que a prefeitura esteja observando, como nós. Ainda vivemos um momento preocupante, vemos uma quarta onda em países europeus e o aumento dos casos na China. O carnaval é a maior festa do mundo. Entendemos que as fronteiras vão estar abertas e que isso também é um risco para nós”, disse.
Além do mais, acrescenta, integrantes dos grupos entendem a ocupação de espaços públicos como um ato político. “Colocamos nosso corpo político na rua, e queremos dizer muitas coisas além de somente brincar o carnaval. Então, não retomamos ainda, estamos receosos e em observação. Esse tempo em que ficamos reclusos nos ensinou muita coisa, inclusive a ter paciência”, acrescentou.
O bloco Babadan também aguarda sinalização mais concreta. Segundo Juventino Dias, da organização, a articulação para o carnaval não pode ser construída abruptamente. “Nossa esperança é que, caso seja liberado, seja dentro das regras sanitárias e que o município possa garantir aos blocos estrutura, fomento e segurança a todos os foliões”, enumerou, antes do anúncio da prefeitura de sexta.
“Estamos aguardando a prefeitura, que precisa se posicionar o quanto antes sobre se haverá ou não o carnaval, porque precisamos de planejamento e fomento para botar o bloco na rua”, acrescentou. “Estamos sem dinheiro para isso.”
Falta de apoio público e privado é criticada
Uma das principais pautas levantadas pelos blocos é a falta de auxílio por parte da prefeitura e de empresas privadas. A Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte (Belotur) divulga anualmente um edital para artistas e grupos musicais se apresentarem no carnaval da cidade. Em 2019, por exemplo, músicos regionais, com atuação comprovada fora da Região Metropolitana de Belo Horizonte, receberam R$ 7 mil. Já os artistas locais, R$ 3,5 mil.
“É uma iniciativa importante, mas que não abrange nem o montante necessário e muito menos contempla todos. No entanto, acho prematuro falar de edital, já que ainda não há a confirmação da festa”, disse Renata Chamilet, do Chama o Síndico.
Segundo os organizadores dos blocos, as empresas privadas que são afetadas e têm interesse direto no carnaval tampouco se manifestaram. “Encaramos como um absurdo, uma omissão por parte das empresas privadas que faturam altíssimo durante carnaval, como cervejarias, transporte por aplicativo, aplicativo para pedir comida, empresas de aviação e de ônibus, rede hoteleira, drogarias…’’, enumerou Gustavo.
“É importante pensar a partir de agora de que forma fazer essas empresas entenderem que têm que ser parceiras da gente para que ocorra uma festa maravilhosa e grandiosa, como é o carnaval de rua de Belo Horizonte, reconhecido como um dos maiores carnavais do país”, acrescentou.
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Com EM