A comunidade indígena de Carnaubeira da Penha, Pernambuco, protesta e pede justiça pela morte de Edvaldo Manoel de Souza. O ancião indígena Atikum morreu durante uma abordagem policial em frente à própria casa, na aldeia Olho D’Água do Padre, zona rural da cidade. A PM nega e afirma que “um homem passou mal e foi socorrido pela equipe.
De acordo com a Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme), o homem de 61 anos foi agredido brutalmente por policiais na noite da quarta-feira (15). Ele teria escutado barulhos no quintal de casa e, ao sair para averiguar, teria se deparado com os agentes.
Os militares teriam questionado Edvaldo Manoel de Souza a respeito de uma espingarda. “Ao responder que não possuía espingarda nenhuma, um policial deu um tapa violento no tórax da vítima ,e quanto mais os policiais perguntavam e Edvaldo negava a propriedade de uma espingarda, mais ele apanhava”, diz a entidade.
A violência teria durado vários minutos, até que o indígena foi socorrido pelos próprios policiais, mas já chegou ao hospital de Carnaubeira sem vida.
“Infelizmente mais uma ação de extrema violência, realizada por policiais militares que ao invés de promover a segurança e proteger a sociedade, espalham pânico e violência contra pessoas de bem e inocentes”, diz nota da entidade.
Protestos
Na manhã da quinta-feira (16), mais de 200 indígenas do povo Atikum desceram a serra e ocuparam a cidade de Carnaubeira em protesto, exigindo que as autoridades tomem providências e punam os policiais suspeitos de matar Edvaldo.
Já nessa sexta-feira (17), lideranças indígenas e organizações de defesa dos direitos dos indígenas se reuniram na aldeia Olho D’água do Padre, onde o corpo do ancião foi velado.
A ocorrência
De acordo com o portal pernambucano JC, o caso foi registrado na delegacia municipal como “morte a esclarecer”. Conforme o boletim de ocorrência registrado pelos policiais militares, a PM estava fazendo uma operação para coibir disparos de arma de fogo e caça predatória de animais na zona rural da cidade.
Segundo o registro, Edvaldo foi abordado e disse não ter conhecimento de disparos. Ele ainda teria dito que “existiam pessoas ruins na localidade”, que teriam ateado fogo no cercado há algum tempo.
“Em certo momento nos relatou que não teria se alimentado e nem tomado seu medicamento para tratamento de problemas de pressão arterial”, diz trecho do boletim, ainda conforme o portal.
O boletim afirma que, pouco tempo depois, o indígena se sentiu mal e foi levado para o hospital municipal, onde já chegou sem vida. O corpo foi encaminhado para o Instituto de Medicina Legal (IML) de Petrolina.
Investigações
Em nota enviada ao JC, a Polícia Civil de Pernambuco informou que um inquérito policial foi instaurado para apurar o caso. A corporação afirma que diligências foram realizadas, incluindo oitivas de familiares da vítima, vizinhos e lideranças indígenas.
“Importante ressaltar que o Ministério Público de Pernambuco está acompanhando as investigações, também auxiliadas por perícias criminais, realizadas pela Polícia Científica”, diz o comunicado.
A Corregedoria Geral da SDS (Secretaria de Defesa Social de Pernambuco) também instaurou uma investigação preliminar e apura se houve infração disciplinar por parte dos policiais militares envolvidos.
“Os trabalhos conduzidos no âmbito criminal e também disciplinar prosseguirão dentro da legalidade, com seriedade e imparcialidade, de modo a elucidar as circunstâncias do fato no menor tempo possível. Outras informações serão concedidas com a conclusão das investigações, para que não haja prejuízo às diligências em curso”, completa a nota.
Ainda ao portal, a Polícia Militar de Pernambuco afirmou que equipes da 1ª CIPM foram acionadas para uma ocorrência de “caça predatória”, e que “um homem passou mal, foi socorrido pelo efetivo, chegando ao hospital foi constatado o óbito”. A corporação informou que o comando da Companhia abriria um inquérito para investigar o ocorrido.
Neste sábado (18), o governador do estado, Paulo Câmara (PSB), anunciou novos recursos para a apuração do caso. “Determinei ao secretário de Defesa Social, Humberto Freire, a designação de dois delegados especiais para presidir a investigação da morte do indígena”, publicou ele no Twitter.
Segundo Câmara, os delegados João Leonardo Freire e Daniel Angelim vão trabalhar em parceria com o Ministério Público no caso.
após uma abordagem policial. Os delegados João Leonardo Freire e Daniel Angelim irão trabalhar em parceria com o Ministério Público no caso. Além dessa apuração, um inquérito policial militar e um procedimento inicial pela Corregedoria-Geral da SDS também estão em curso.
— Paulo Câmara 40 (@PauloCamara40) June 18, 2022
Com BHZ