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COVID-19: Minas detecta alta na parcela de vítimas mais idosas
Aumento de idosos na participação do total de mortes e testagens positivas do novo coronavírus (Sars-CoV-2) é observado no mês de agosto, em Minas Gerais e em Belo Horizonte, e pode estar ligado à presença da variante Delta ou até a uma perda de efetividade das vacinas já aplicadas. A mesma ampliação na participação desse perfil de idade foi observada pela Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), após avaliação da 29ª e 30ª semanas epidemiológicas (18 a 31 de julho de 2021), que investiga se o movimento é decorrente de um impacto da chegada da Delta ou da necessidade de reforço vacinal, entre outras hipóteses. O mês passado foi justamente o momento em que as autoridades sanitárias mineiras detectaram que a variante viral mais transmissiva tinha se disseminado por todo o estado.
Por enquanto, as pastas da Saúde de Minas Gerais e de Belo Horizonte indicam um decréscimo de casos e óbitos no cômpito geral da população, mas confirmam a presença da Delta, sem, contudo, poder afirmar ser essa a causa de faixas etárias mais altas voltarem a ser mais atingidas. Estatísticas da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), em comparativo de três períodos de destaque dentro da pandemia por sua gravidade – o pico de infecções de 2020 (junho em BH, e julho e agosto, em MG), o colapso hospitalar e explosão de casos, entre março e abril deste ano, e o mês de agosto –, mostram que a participação dos idosos em casos e mortes vem se ampliando.
Segundo esse comparativo (veja as tabelas), em Minas Gerais a participação nas mortes se multiplicou em agosto mais fortemente – quando comparada aos percentuais de março-abril (pico de casos e colapso hospitalar) – nas faixas dos maiores de 90 anos (3,59% para 8,97%), e de 80 a 89 anos (14,5% para 22,94%). Por outro lado, os percentuais caíram nas faixas etárias entre 60 e 69 anos (25,69% para 17,21%) e de 50 a 59 anos (15,92% para 11,72%). Os casos positivos subiram na faixa dos maiores de 90 anos (0,63% para 0,93%), de 20 a 29 anos (15,71% para 18,7%) e dos 10 aos 19 anos (5,98% para 8,21%), no mesmo comparativo temporal. A maior queda foi na participação da faixa dos 60 aos 69 anos, que passou de 12,23% para 7,83%.
Hipóteses
O crescimento proporcional de hospitalizações de idosos preocupa e pode levar a algumas hipóteses, segundo a Fiocruz. “(Isso) pode refletir a ampliação da vacinação de faixas etárias mais jovens, visto que sob condições semelhantes (todos vacinados), os mais velhos são mais vulneráveis. Entretanto, o quadro precisa ser acompanhado de forma atenta. Também pode resultar de outros fatores, entre os quais se coloca a hipótese de perda da proteção proporcionada pela vacina, o que imporia a necessidade do reforço vacinal (terceira dose ou segunda no caso de dose única)”, pondera a Fiocruz.
No caso de BH, a ampliação da participação nas mortes ocorreu de forma forte no mesmo comparativo dos idosos com mais de 90 anos (4,78% para 23,53%), de 80 a 89 anos (16,65% para 23,53%) e de quem tinha de 30 a 39 anos (2,88% para 5,88%). A notícia boa é que ocorreu um declínio nas pessoas de 50 a 59 anos (13,86% para 5,88%) e de 60 a 69 anos (26,52% para 5,88%), na capital. Um aumento de participação, agora de casos, também foi registrado na faixa acima de 90 anos (3,47% para 6,25%), mas também de 10 a 19 anos (0,37% para 1,34%), de 20 a 29 anos (2,52% para 8,3%) e de 30 a 39 anos (7,02% para 10,26%). Já dos 60 aos 69 anos, no comparativo março e abril de 2021 com agosto deste ano, há queda aguda (22,92% para 8,48%).
Síndrome respiratória
Os dados referentes às semanas epidemiológicas 29 e 30 de 2021 do estudo feito pela Fiocruz apontam incidências de síndromes respiratórias agudas graves (SRAG) ainda altas no país – indicativo de transmissão significativa do vírus Sars-CoV-2, de acordo com a fundação, pois a maior parte dos casos de SRAG no momento se deve à infecção por esse vírus. “Os estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Acre, Goiás, Mato Grosso do Sul e o Distrito Federal encontram-se com taxas superiores a 10 casos por 100 mil habitantes. Os demais estados possuem taxas inferiores. Como os casos de SRAG são essencialmente casos severos, que demandam hospitalização, ou casos que vieram a óbito, essas taxas preocupam por impor demanda significativa ao sistema hospitalar”, avalia a fundação.
“O momento conjuga esperança de controle da pandemia e imensa preocupação com revezes na sua evolução, ainda possíveis em face do surgimento e da propagação de variantes mais transmissíveis e, eventualmente, mais agressivas. A vacinação tem feito grande diferença na redução da gravidade de casos, internações e de óbitos no país”, analisa a Fiocruz no estudo. “Entretanto, o vírus continua circulando, ainda são muitos elevados os patamares de casos novos e de óbitos. Outro agravante é que pessoas vacinadas, mesmo com o esquema vacinal completo, podem ser infectadas e transmitir o vírus. No caso das vacinas administradas em duas doses, a primeira dose confere proteção muito inferior ao esquema vacinal completo”, observa.
Imunização é essencial, reforçam autoridades
A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) afirma realizar um monitoramento constante para a verificação do impacto da circulação da variante Delta. Até o momento, 174 amostras genotipadas identificaram a variante, sendo cinco casos de óbitos (em Arinos, Claro dos Poções, Rio Novo, Santa Luzia e Uberaba). “Entretanto, ainda não é possível afirmar que o cenário epidemiológico atual tem observado alterações significativas por essa razão. Trata-se da linhagem B.1.617.2, de atenção e preocupação sob vigilância mundial, devido à possibilidade de maior transmissibilidade, bem como a necessidade do desenvolvimento de estudos que comprovem a efetividade dos imunizantes disponíveis até o momento”, informa a SES-MG.
A presença da variante não altera as posturas contra a doença, segundo a SES-MG, que considera que a principal medida de prevenção é acelerar a vacinação. “É imprescindível que a população que integre os grupos prioritários do Programa Nacional de Imunizações (PNI) não deixe de procurar uma unidade de saúde para a vacinação, sem esquecer do reforço da segunda dose, já que só com o esquema completo é possível reduzir a transmissão do vírus e evitar a forma grave da COVID-19”.
A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), por meio da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), informa a confirmação de três casos da variante Delta, mas pondera que os indicadores de transmissão da COVID-19 e de demanda para leitos de enfermaria e UTI apresentam redução. “Isso pode ser atribuído, entre outros fatores, à adesão da população às medidas de prevenção e ao avanço da campanha de vacinação. O Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (CIEVS), da PBH, realiza um trabalho de monitoramento continuado para detectar precocemente novas variantes, além de outras situações relacionadas à transmissão”.
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) pondera que as respostas às vacinas em diversos grupos populacionais, em médio e longo prazos, ainda precisam ser conhecidas para se determinar o tempo de duração da resposta mais efetiva do sistema imunológico e ainda espera que a humanidade conviva por algum tempo com o novo coronavírus. “A COVID-19 continua sendo uma trilha que vai sendo desvendada à medida que é percorrida. Perguntas novas se colocam a cada momento. Por ora, há fortes razões para acreditarmos que conviveremos com a COVID-19 ainda por um período, embora em condição endêmica. A vacinação, o distanciamento físico e o uso de máscara são as melhores armas de que ainda dispomos para o seu enfrentamento, e não devem ser negligenciadas”, pontua.
Na fila
Belo Horizonte oferece hoje a segunda dose de vacina para moradores de 56 anos e, amanhã, a primeira para os de 18. Ontem, foram vacinados os jovens de 19, ao mesmo tempo em que trabalhadores do transporte e limpeza urbana puderam completar o esquema vacinal. A capital soma 1.863.420 aplicações de primeira dose, 953.071 de segunda e 58.854 de dose única. Segundo a prefeitura, 81,8% do público-alvo total se vacinou com a injeção inicial e 43,1% do mesmo contingente completou o esquema vacinal.
Hospitais já fecham UTIs para a doença
Diminuição de vagas de UTI para a COVID-19 nos hospitais particulares, de 279 para 274, elevou a taxa de ocupação de leitos desse tipo em Belo Horizonte de 47,2% para 49,9% ontem, segundo o boletim epidemiológico e assistencial da prefeitura. A redução vem em resposta à diminuição da demanda de infectados pelo coronavírus. Com isso, as instituições abrem vagas para pacientes com outras doenças. Já a ocupação dos leitos de enfermaria recuou em BH: 33,9% para 30,7%. A transmissão do novo coronavírus vinha de quatro altas consecutivas, mas ficou estável ontem. O RT continua em 0,95, dentro do nível menos grave. Pelo quarto boletim seguido, o sistema do SUS apresentou instabilidade nessa quinta. Assim, os números continuam os mesmos do balanço anterior: 270.914 diagnósticos e 6.539 mortes. Em Minas, segundo a Secretaria de Estado de Saúde, foram registradas ontem mais 85 mortes, elevando o total na pandemia para 53.167. Os casos somam 2.073.221.