COVID-19: Minas detecta alta na parcela de vítimas mais idosas

Paciente recebe tratamento em UTI da Santa Casa de BH durante um dos picos da doença na cidade, em junho do ano passado: casos e mortes estão em queda no momento, mas a nova cepa mantém a saúde pública em alerta (foto: Douglas Magno/AFP – 1º/6/20)
Aumento de idosos na participação do total de mortes e testagens positivas do novo coronavírus (Sars-CoV-2) é observado no mês de agosto, em Minas Gerais e em Belo Horizonte, e pode estar ligado à presença da variante Delta ou até a uma perda de efetividade das vacinas já aplicadas. A mesma ampliação na participação desse perfil de idade foi observada pela Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), após avaliação da 29ª e 30ª semanas epidemiológicas (18 a 31 de julho de 2021), que investiga se o movimento é decorrente de um impacto da chegada da Delta ou da necessidade de reforço vacinal, entre outras hipóteses. O mês passado foi justamente o momento em que as autoridades sanitárias mineiras detectaram que a variante viral mais transmissiva tinha se disseminado por todo o estado.
Por enquanto, as pastas da Saúde de Minas Gerais e de Belo Horizonte indicam um decréscimo de casos e óbitos no cômpito geral da população, mas confirmam a presença da Delta, sem, contudo, poder afirmar ser essa a causa de faixas etárias mais altas voltarem a ser mais atingidas. Estatísticas da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), em comparativo de três períodos de destaque dentro da pandemia por sua gravidade – o pico de infecções de 2020 (junho em BH, e julho e agosto, em MG), o colapso hospitalar e explosão de casos, entre março e abril deste ano, e o mês de agosto –, mostram que a participação dos idosos em casos e mortes vem se ampliando.
Segundo esse comparativo (veja as tabelas), em Minas Gerais a participação nas mortes se multiplicou em agosto mais fortemente – quando comparada aos percentuais de março-abril (pico de casos e colapso hospitalar) – nas faixas dos maiores de 90 anos (3,59% para 8,97%), e de 80 a 89 anos (14,5% para 22,94%). Por outro lado, os percentuais caíram nas faixas etárias entre 60 e 69 anos (25,69% para 17,21%) e de 50 a 59 anos (15,92% para 11,72%). Os casos positivos subiram na faixa dos maiores de 90 anos (0,63% para 0,93%), de 20 a 29 anos (15,71% para 18,7%) e dos 10 aos 19 anos (5,98% para 8,21%), no mesmo comparativo temporal. A maior queda foi na participação da faixa dos 60 aos 69 anos, que passou de 12,23% para 7,83%.

Hipóteses

O crescimento proporcional de hospitalizações de idosos preocupa e pode levar a algumas hipóteses, segundo a Fiocruz. “(Isso) pode refletir a ampliação da vacinação de faixas etárias mais jovens, visto que sob condições semelhantes (todos vacinados), os mais velhos são mais vulneráveis. Entretanto, o quadro precisa ser acompanhado de forma atenta. Também pode resultar de outros fatores, entre os quais se coloca a hipótese de perda da proteção proporcionada pela vacina, o que imporia a necessidade do reforço vacinal (terceira dose ou segunda no caso de dose única)”, pondera a Fiocruz.

No caso de BH, a ampliação da participação nas mortes ocorreu de forma forte no mesmo comparativo dos idosos com mais de 90 anos (4,78% para 23,53%), de 80 a 89 anos (16,65% para 23,53%) e de quem tinha de 30 a 39 anos (2,88% para 5,88%). A notícia boa é que ocorreu um declínio nas pessoas de 50 a 59 anos (13,86% para 5,88%) e de 60 a 69 anos (26,52% para 5,88%), na capital. Um aumento de participação, agora de casos, também foi registrado na faixa acima de 90 anos (3,47% para 6,25%), mas também de 10 a 19 anos (0,37% para 1,34%), de 20 a 29 anos (2,52% para 8,3%) e de 30 a 39 anos (7,02% para 10,26%). Já dos 60 aos 69 anos, no comparativo março e abril de 2021 com agosto deste ano, há queda aguda (22,92% para 8,48%).

Síndrome respiratória

Os dados referentes às semanas epidemiológicas 29 e 30 de 2021 do estudo feito pela Fiocruz apontam incidências de síndromes respiratórias agudas graves (SRAG) ainda altas no país – indicativo de transmissão significativa do vírus Sars-CoV-2, de acordo com a fundação, pois a maior parte dos casos de SRAG no momento se deve à infecção por esse vírus. “Os estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Acre, Goiás, Mato Grosso do Sul e o Distrito Federal encontram-se com taxas superiores a 10 casos por 100 mil habitantes. Os demais estados possuem taxas inferiores. Como os casos de SRAG são essencialmente casos severos, que demandam hospitalização, ou casos que vieram a óbito, essas taxas preocupam por impor demanda significativa ao sistema hospitalar”, avalia a fundação.

“O momento conjuga esperança de controle da pandemia e imensa preocupação com revezes na sua evolução, ainda possíveis em face do surgimento e da propagação de variantes mais transmissíveis e, eventualmente, mais agressivas. A vacinação tem feito grande diferença na redução da gravidade de casos, internações e de óbitos no país”, analisa a Fiocruz no estudo. “Entretanto, o vírus continua circulando, ainda são muitos elevados os patamares de casos novos e de óbitos. Outro agravante é que pessoas vacinadas, mesmo com o esquema vacinal completo, podem ser infectadas e transmitir o vírus. No caso das vacinas administradas em duas doses, a primeira dose confere proteção muito inferior ao esquema vacinal completo”, observa.

Confira a participação (%)* de cada faixa etária no total de casos e mortes em decorrência da doença em momentos de pico e no último mês, com a presença da Delta (Clique para ampliar) (foto: Arte EM)

 

Imunização é essencial, reforçam autoridades

A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) afirma realizar um monitoramento constante para a verificação do impacto da circulação da variante Delta. Até o momento, 174 amostras genotipadas identificaram a variante, sendo cinco casos de óbitos (em Arinos, Claro dos Poções, Rio Novo, Santa Luzia e Uberaba). “Entretanto, ainda não é possível afirmar que o cenário epidemiológico atual tem observado alterações significativas por essa razão. Trata-se da linhagem B.1.617.2, de atenção e preocupação sob vigilância mundial, devido à possibilidade de maior transmissibilidade, bem como a necessidade do desenvolvimento de estudos que comprovem a efetividade dos imunizantes disponíveis até o momento”, informa a SES-MG.
A presença da variante não altera as posturas contra a doença, segundo a SES-MG, que considera que a principal medida de prevenção é acelerar a vacinação. “É imprescindível que a população que integre os grupos prioritários do Programa Nacional de Imunizações (PNI) não deixe de procurar uma unidade de saúde para a vacinação, sem esquecer do reforço da segunda dose, já que só com o esquema completo é possível reduzir a transmissão do vírus e evitar a forma grave da COVID-19”.
A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), por meio da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), informa a confirmação de três casos da variante Delta, mas pondera que os indicadores de transmissão da COVID-19 e de demanda para leitos de enfermaria e UTI apresentam redução. “Isso pode ser atribuído, entre outros fatores, à adesão da população às medidas de prevenção e ao avanço da campanha de vacinação. O Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (CIEVS), da PBH, realiza um trabalho de monitoramento continuado para detectar precocemente novas variantes, além de outras situações relacionadas à transmissão”.
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) pondera que as respostas às vacinas em diversos grupos populacionais, em médio e longo prazos, ainda precisam ser conhecidas para se determinar o tempo de duração da resposta mais efetiva do sistema imunológico e ainda espera que a humanidade conviva por algum tempo com o novo coronavírus. “A COVID-19 continua sendo uma trilha que vai sendo desvendada à medida que é percorrida. Perguntas novas se colocam a cada momento. Por ora, há fortes razões para acreditarmos que conviveremos com a COVID-19 ainda por um período, embora em condição endêmica. A vacinação, o distanciamento físico e o uso de máscara são as melhores armas de que ainda dispomos para o seu enfrentamento, e não devem ser negligenciadas”, pontua.

Na fila

 

Belo Horizonte oferece hoje a segunda dose de vacina para moradores de 56 anos e, amanhã, a primeira para os de 18. Ontem, foram vacinados os jovens de 19, ao mesmo tempo em que trabalhadores do transporte e limpeza urbana puderam completar o esquema vacinal. A capital soma 1.863.420 aplicações de primeira dose, 953.071 de segunda e 58.854 de dose única. Segundo a prefeitura, 81,8% do público-alvo total se vacinou com a injeção inicial e 43,1% do mesmo contingente completou o esquema vacinal.

Hospitais já fecham UTIs para a doença

Diminuição de vagas de UTI para a COVID-19 nos hospitais particulares, de 279 para 274, elevou a taxa de ocupação de leitos desse tipo em Belo Horizonte de 47,2% para 49,9% ontem, segundo o boletim epidemiológico e assistencial da prefeitura. A redução vem em resposta à diminuição da demanda de infectados pelo coronavírus. Com isso, as instituições abrem vagas para pacientes com outras doenças. Já a ocupação dos leitos de enfermaria recuou em BH: 33,9% para 30,7%. A transmissão do novo coronavírus vinha de quatro altas consecutivas, mas ficou estável ontem. O RT continua em 0,95, dentro do nível menos grave. Pelo quarto boletim seguido, o sistema do SUS apresentou instabilidade nessa quinta. Assim, os números continuam os mesmos do balanço anterior: 270.914 diagnósticos e 6.539 mortes. Em Minas, segundo a Secretaria de Estado de Saúde, foram registradas ontem mais 85 mortes, elevando o total na pandemia para 53.167. Os casos somam 2.073.221.

Com EM