Criminosos se passam por funcionários de fazendas para roubar cargas de café em MG

Os roubos de cargas de café se multiplicaram por Minas Gerais a partir do mês de março, período de alta no valor do produto.
Como mostramos no primeiro capítulo desta série especial de reportagens
, os criminosos estão agindo em fazendas produtoras, interceptando caminhões em diferentes pontos de Minas Gerais e já atuaram até no porto de Santos, um dos mais importantes do país.

A ousadia das quadrilhas não tem limites, como conta a analista de agronegócio da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Ana Carolina Gomes.

“Chega a ser até curioso, uma vez que muitos criminosos estão levando a planta do café embora e alguns estão colhendo e deixando para pegar no outro dia. Enfim, são formas até inusitadas de se levar o produto que muitas vezes fica vulnerável a céu aberto”, diz Ana Carolina Gomes.

A situação ficou tão grave que produtores rurais, fazendeiros, prefeitos e vereadores acionaram a Assembleia Legislativa para cobrar ações do poder público. Com atuação no Sul de Minas Gerais, o deputado estadual professor Cleiton (PV) destacou o cenário de preocupação dos moradores da região.

“Com o preço do produto cada vez mais valorizado, a tendência é que essas quadrilhas que já atuam no roubo de carga, inclusive, roubando café na zona rural, possam aumentar ainda mais essa sana pelo roubo. Então, tem uma preocupação do produtor, com a sua família, com a sua vida e com o produto”, pontua o deputado.

Diante da preocupação dos produtores e a ação dos criminosos, a Polícia Militar reagiu e lançou uma operação focada no combate à criminalidade no meio rural, com atenção especial à safra do café que está ocorrendo em Minas, como detalhou à Itatiaia, o coronel Ralfe Veiga de Oliveira, que coordenou boa parte da ação e atualmente é Comandante de Policial da Capital.

“Minas Gerais é o maior produtor de café do país e, obviamente, merece uma atenção especial. Então, aquele município que está no período de colheita de café, de safra de café, ele vai ter ações específicas para aquele período, questões voltadas à prevenção ao furto e roubo de defensivos agrícolas”, afirma o Coronel.

O setor de inteligência da Polícia Militar está rastreando os passos das quadrilhas que estão atuando no roubo de cargas, em Minas. No caso do café, por exemplo, a PM já descobriu, por exemplo, que criminosos têm se disfarçado para se infiltrar entre os funcionários das fazendas. A intenção dos bandidos é monitorar a rotina e ter acesso a informações privilegiadas sobre a logística de transporte do café.

“A gente sabe que nesse período, infelizmente, pode ocorrer contratação de pessoas que são foragidos da justiça e que, na verdade, não estão procurando emprego, estão procurando um meio para praticar o crime”, ressalta.

A Polícia Civil também está acompanhando as quadrilhas de roubo de café e investiga a participação de facções criminosas de outros Estados. O PCC, o Primeiro Comando da Capital, pode estar por trás de furtos e roubos de cargas no Alto Paranaíba e no Triângulo Mineiro. É o que destaca o delegado Thiago Rocha Ferreira, responsável pela Delegacia Especializada em Investigação e Repressão ao Furto, Roubo e Desvio de Carga, ligada ao Departamento Estadual de Investigação de Crimes Contra o Patrimônio (Depatri).

“A gente registrou, já esse ano, furto de carreta de café avaliado em R$ 1.800.000. Uma delas até encontrada em Franca, lá no Estado de São Paulo. Acho que isso reforça e comprova essa influência ali no triângulo em relação à atuação da facção de origem paulista”, ele destaca.

O agronegócio também tem investido na segurança com tecnologias implantadas desde a fazenda até o transporte. A analista de agronegócio da Faemg, Ana Carolina Gomes, destaca que a instituição já criou um protocolo que é repassado aos produtores rurais.

“Vamos realizar, principalmente durante a colheita, uma vigilância fortalecida das lavouras e também dos locais onde os cafés e outros produtos de valor são armazenados. Além disso, faremos o fortalecimento do sistema de monitoramento, como câmeras de vigilância, alarmes e também drones”, ela explica.

“Hoje a gente tem uma parceria junto com a polícia militar, onde sistemas de drones com reconhecimento facial estão sendo utilizados, também na área rural, para que isso possa fortalecer a segurança no campo”, conclui a analista.

No terceiro capítulo da série “Os Piratas das Estradas: o mercado do roubo nas rodovias brasileiras”, a Itatiaia irá mostrar que o roubo e furto de cargas vai muito além do café e do agronegócio. Eletrônicos, alimentos, medicamentos, pneus, cigarros e até produtos de limpeza. Por aqui, em Minas, apenas nos seis primeiros meses deste ano, já foram 335 cargas furtadas ou roubadas, uma média de quase dois caminhões por dia.