O gerente de uma unidade da loja de roupas Zara em Fortaleza foi indiciado por racismo após uma delegada negra ser expulsa do estabelecimento, em setembro deste ano. Além de um tratamento nitidamente diferente dado à vítima, as investigações conduzidas pela Polícia Civil do Ceará revelaram que a loja possuía um “código de discriminação” que tratava pessoas “fora do padrão da loja” como suspeitas.
Segundo o delegado Sérgio Pereira, em entrevista coletiva concedida nesta terça-feira (19), ex-funcionários ouvidos no processo relataram que as palavras “Zara Zerou” eram disparadas nos alto-falantes quando um cliente “indesejado” entrava no estabelecimento. O alarme funcionava como um código de alerta para os vendedores.
“A partir de então, essa pessoa era acompanhada pelos funcionários, não para ser atendida, mas naquela situação de vigilância ininterrupta. Porque ela saiu do perfil de cliente e passava a ser tratada como o perfil de suspeita”, disse o delegado.
Tratamento ‘diferente’
O episódio de racismo contra a delegada Ana Paula Barroso, diretora-adjunta do Departamento de Proteção aos Grupos Vulneráveis da Polícia Civil do Ceará, aconteceu no dia 14 de setembro. Ela foi impedida de entrar na loja por um funcionário do local, sob a alegação de “questões de segurança” já que ela tomava um sorvete e não usava máscara (relembre aqui).
Circuitos internos da loja obtidos pelas autoridades, no entanto, revelam que o funcionário em questão não dispensou o mesmo tratamento a clientes brancos que estiveram no estabelecimento. Nas imagens, é possível ver quando a delegada é expulsa do local, sendo que, minutos antes, o mesmo funcionário atendeu uma cliente branca que também não fazia o uso correto da máscara.
Segundo a Polícia Civil, as imagens analisadas pela perícia demonstram a atitude discriminatória. Diante disso, foi concluído que o gerente praticou o crime de racismo contra a vítima ao impedir seu acesso à loja e se negar a atendê-la.
Testemunhas ouvidas
Durante as investigações, além das imagens captadas, a Polícia Civil tomou depoimentos de oito testemunhas, além da vítima e do suspeito. Entre as pessoas ouvidas, está uma mulher negra, de 27 anos, que relatou em redes sociais ter passado por situação semelhante em junho deste ano na mesma loja.
Ainda foram ouvidas duas ex-funcionárias do estabelecimento, que contaram como funcionava o código “Zara Zerou”. Também prestaram depoimento três seguranças do shopping onde a loja funciona, bem como o chefe de segurança do local, que voltou à loja com a vítima minutos após a expulsão.
O que diz a Zara?
Em nota enviada ao Diário do Nordeste, a Zara Brasil disse “que não teve acesso ao relatório da autoridade policial até sua divulgação nos meios de comunicação” e que “a atuação da loja durante a pandemia Covid-19 se fundamenta na aplicação dos protocolos de proteção à saúde, já que o decreto governamental em vigor estabelece a obrigatoriedade do uso de máscaras em ambientes públicos”.
A empresa acrescentou, ainda, que “qualquer outra interpretação não somente se afasta da realidade como também não reflete a política da empresa”. Por fim, a marca ressalta que “rechaça qualquer forma de racismo, que deve ser combatido com a máxima seriedade em todos os aspectos”.
Com BHZ