Professora é barrada na porta da Secretaria de Educação de Natal por usar roupa ‘inadequada’

Tânia Maruska Petersen
Professora se viu obrigada a assinar documentos de pé, na portaria do edifício (Reprodução/Redes sociais)

Uma professora da rede municipal de ensino de Natal, no Rio Grande do Norte, denuncia ter sido proibida de entrar na Secretaria de Educação da cidade por estar vestindo uma roupa considerada inadequada. Nessa terça-feira (16), Tânia Maruska Petersen, além de outras educadoras e ativistas, protestaram contra o episódio em frente à secretaria. Procurada, a pasta afirmou que está apurando os fatos (veja abaixo).

Manifestação
Educadoras participaram de ato contra o episódio (Lenilton Lima/SINTE?RN)

A professora, que atua como conselheira na Escola Municipal Zuleide Fernandes, conta que foi barrada por um segurança e pelo chefe de patrimônio ao tentar entrar na SME (Secretaria Municipal de Educação), na última quinta-feira (11).

Ela contou ao SINTE/RN (Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do RN) que foi destratada na portaria do prédio. O chefe de patrimônio teria dito que sua roupa, um vestido, “não condizia para entrar na Secretaria de Educação” e que ela não era uma educadora.

Tânia Maruska questionou a proibição e contou que foi ao local para resolver questões relativas ao trabalho, mas continuou impedida de acessar a secretaria. A professora se viu obrigada a assinar documentos de pé, na portaria do edifício.

Humilhação

“Fui constrangida, passei por uma situação vexatória. Me senti muito mal. Esse senhor não tem condições nenhuma de ocupar um cargo para orientar alguém dessa forma. Eu fiquei muito nervosa, extremamente humilhada”, desabafou a professora ao sindicato.

Além de trabalhar como conselheira na escola municipal, Tânia também atua no Centro de Referência Especializada em Assistência Social (Creas) de Natal. A profissional repudiou o comportamento ultrapassado da secretaria.

“Até agora estou sem acreditar que em pleno século 21, depois de tantas conquistas das mulheres, somos julgadas e criminalizadas pela roupa que usamos. Nós vivemos numa sociedade patriarcal, machista, misógina. Eu queria saber se fosse um homem, se esse funcionário teria feito o que fez comigo”, protestou.

Protesto

Logo após o episódio, o SINTE/RN se manifestou contra a atitude dos funcionários da SME e classificou o caso como “absurdo, inaceitável e lamentável”. O sindicato também convocou trabalhadores e trabalhadoras da educação para um protesto em frente ao edifício.

Na manhã de ontem, manifestantes se reuniram no local e prestaram apoio a Tânia Maruska. A própria professora estava presente no ato, ao lado de várias outras educadoras da rede municipal de ensino de Natal.

Elas rasgaram um cartaz que estava afixado na frente da SME e que pontava regras sobre roupas a serem usadas para acessar o prédio. A diretora de comunicação do SINTE, professora Thelma Farias, relata que o grupo de mulheres exigiu da SME uma retratação e a imediata exoneração do chefe do patrimônio.

Agradecendo o apoio, Tânia Maruska disse ao SINTE/RN: “Não desejava essa exposição, mas não podia deixar passar uma situação onde me senti humilhada. Fui criminalizada pela minha roupa. Isso nunca me aconteceu, já andei em outras secretarias”, afirmou.

Professora se manifesta
Tânia Maruska participou da manifestação nessa terça-feira (Lenilton Lima/SINTE/RN)

Secretaria lamenta ocorrido

Procurada pelo BHAZ, a Secretaria Municipal de Educação de Natal informou que está apurando os fatos para tomar as devidas providências.

“A SME lamenta o episódio e esclarece, que na ocasião a professora foi atendida na sequência em sua demanda pela diretora do Departamento de Administração Geral”, diz a secretaria por meio de nota (leia na íntegra abaixo).

O órgão ainda reafirmou “o respeito as professoras e professores, como também, a qualquer cidadã ou cidadão que procura atendimento” na sede da secretaria.

Nota da SME na íntegra

“Sobre o episódio denunciado pela professora Tânia Maruska Petersen, a Secretaria Municipal de Educação de Natal está apurando os fatos para tomar as devidas providências.

A SME-Natal lamenta o episódio e esclarece, que na ocasião a professora foi atendida na sequência em sua demanda pela diretora do Departamento de Administração Geral.

Na oportunidade, a SME-Natal reafirma o respeito as professoras e professores, como também, a qualquer cidadã ou cidadão que procura atendimento na sede da SME-Natal, no Centro Municipal de Referência em Educação Aluízio Alves (Cemure), ao anexo no qual funciona o Departamento de Atenção ao Educando (DAE) e nas 146 unidades de ensino distribuídas pelas quatro regiões administrativas da cidade”.

 


 

Edição: Giovanna Fávero

Com BHZ